Primeiras impressões de “Os Superficiais”

Carr, N. (2011). Os Superficiais: o que a internet está a fazer aos nossos cérebros. Tradução de Da Costa, L. A. Lisboa. Gradiva publicações, Lda.

Ao longo de 321 páginas, cinco capítulos e dez secções, o autor finalista do prémio Pulitzer leva-nos, no silêncio da leitura profunda do seu livro impresso, a fazer uma viagem, repleta de “hiperligações”, de referências científicas, sociais e históricas, metáforas, citações, discursos, descobertas e estudos, para dentro dos meandros da plasticidade sináptica dos nossos cérebros e seguindo a evolução das tecnologias. Fá-lo, utilizando, alternadamente, um tom “narrativo-pessoal” e “descritivo-impessoal” e infiltrando no seu discurso ideias, pensamentos e histórias referentes, sobretudo, às áreas da neurologia, psicologia, antropologia, sociologia e filosofia.

Com uma linha argumentativa pretensamente imparcial, que ensaia, entre outras, através da contraposição de pontos de vistas entre “fãs” e “céticos ou acérrimos opositores” da Rede das redes, Nicholas Carr, ao discorrer sobre os efeitos das tecnologias designadas “intelectuais” – a escrita, o mapa, o relógio mecânico, o livro impresso,…, a internet,…- no funcionamento do cérebro humano, acaba, no entanto, sem mistério, por nos orientar para o sentido do título da sua obra “Os Superficiais”, para as inquietantes irreversíveis mudanças da nossa mente por influência da internet.
Em grande parte, de interessante, enriquecedora e, por vezes, “empática” e prazenteira leitura, o livro pode deixar-nos um “quê” de saturação e de alguma desilusão. Enquanto primeira impressão, foi o que a mim deixou. O excesso de exemplos e a insistência com que o autor me pareceu sublinhar que as tecnologias de “écran” não são nem “demónios” nem “milagres”, levaram-me a esmorecer por volta da página 197, e da “Igreja Google” (embora tenha recuperado o interesse na 221 e saltado de uma leitura na diagonal para um leitura mais atenta e profunda), assim como a questionar sobre quais seriam as razões da, na minha opinião, não substancial mas sim formal defesa e preocupação de neutralidade do autor.

Para além disso, fica a sensação que o que o seu conteúdo apresenta são constatações de evidências e uma verdade palaciana, contra à qual somos impotentes: a internet está a mudar a nossa maneira de raciocinar, de apreender e interpretar a realidade, de estar, de sentir e de fazer.

Embora deixe, no seu epílogo, uma “mensagem” de otimismo: “Mas eu continuo a manter a esperança que nós não nos deixaremos arrastar facilmente para o futuro cujo guião os nossos engenheiros informáticos e programadores de software estão a escrever para nós”, esta revelou-se-me frágil, perante o fluxo, mantido anteriormente, de observações, de argumentações, contra-argumentações e de alertas (como as que abaixo transcrevi).

“A mente linear, calma, focada, atenta, está a ser afastada por um novo tipo de mente que quer e precisa de receber e distribuir informação em pequenos soluços descoordenados e muitas vezes sobrepostos-quanto mais rápido, melhor.” (p.23)

“Quando estamos online, entramos num ambiente que promove a leitura negligente, o pensamento apressado e distraído e a aprendizagem superficial” (p.146)

“Aquilo por que estamos a passar é, num sentido metafórico, o inverso da trajetória inicial da civilização: estamos a evoluir de cultivadores do conhecimento pessoal a caçadores e colectores numa floresta de dados electrónicos.” (p.174)

Em jeito de conclusão, acrescento que o livro “Os Superficiais” de Nicholas Carr, que por acaso tem estado na minha estante há já alguns meses (o título foi sem dúvida o que estimulou a sua aquisição) e que só agora me decidi, por imperativos académicos, a agarrá-lo e lê-lo, não me deixou de todo indiferente…. Certamente que terei de fazer (re)leituras e que com estas aparecer-me-ão novos focos de atenção e de reflexão. Talvez até tenha que voltar aqui e rever esta minha primeira “relação” com o livro, quiçá 😉 :)! Para já…

E vocês, já o leram? Quais foram as vossas primeiras impressões?

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